Centro Social do Exército de Salvação

A relação do Exército de Salvação com as forças armadas releva da analogia, e está conceptualmente presente no imaginário da organização desde o seu surgimento em Londres, em 1865. Para melhor combater problemas como a miséria dos sem abrigo, a dependência do álcool ou o vício do jogo, o pastor William Booth e a sua mulher Catherine fundaram um “exército”, hierarquizado com base nas conhecidas patentes (“major”, “coronel”, etc). 

Em Portugal desde 1972, o Exército de Salvação gere um centro de alojamento temporário para sem abrigo em Lisboa (capacidade para 75 pessoas), um lar de idosos (45 pessoas) e uma casa de acolhimento residencial para crianças e jovens em risco (14 crianças) em Sintra, e um centro de dia no Porto (35 pessoas). A organização recebe doações em género (de particulares e também de empresas, como o franchise de segunda-mão Kid to Kid), orientando-as em prioridade para os seus utentes. Os bens que sobram são disponibilizados em quatro bazares sociais a preços muito baixos. As receitas destes bazares cobrem cerca de 30% das necessidades orçamentais do Centro Comunitário Central (uma das valências). 

Cátia Alves, assistente social com quem conversámos, gostaria de ver em Portugal alguma da dinâmica comercial das icónicas lojas Salvation Army em Londres, mas sabe que isso é impossível. As lojas inglesas, de clientela abundante e intenso turnover, estão situadas em artéria de grande afluência; nada a ver com a localização dos bazares portugueses, “escondidos” em bairros sociais.  

Um “bazar do desabafo” em Chelas

Natividade Gonçalves, 66 anos, gere o bazar social de Chelas. Já combate neste exército, por si e por outros, desde 1977.

Bazar do Exército de Salvação em Chelas

No bazar de Chelas há sempre três cadeiras disponíveis para quem quiser sentar e desabafar ou pedir conselho (doença, problemas conjugais, “o meu filho roubou-me isto, o que devo fazer?”). Cerca de 80% dos clientes do bazar recebem o RSI e boa parte são idosos reformados. Nenhum dos artigos custa mais de dois euros e Natividade vê nisso uma ajuda preciosa para as pessoas com baixos rendimentos que ali habitam. 

Natividade nota que o bazar de Chelas rende menos do que antigamente. É hoje mais difícil captar bens de qualidade, porque os particulares preferem vendê-los nas plataformas peer-to-peercomo o OLX. Por outro lado, a oferta generalizada de artigos asiáticos extremamente baratos terá desviado uma parte da clientela.

exercitodesalvacao.pt