A Entrajuda é uma instituição à parte no universo da reutilização solidária em Portugal, operando segundo um modelo único e a uma escala surpreendente. Enquanto plataforma de apoio às IPSS nacionais, a instituição mobiliza e distribui recursos, tais como formação, voluntários e bens materiais.
O Banco de Bens Doados e o Banco de Equipamentos são as valências que permitem, respetivamente, a recolha de todo o tipo de bens (exceto vestuário) doados por particulares e sobretudo por empresas, e a preparação para reutilização e reciclagem dos equipamentos elétricos e eletrónicos assim recolhidos. Poderíamos dizer que estamos perante operações B2B, uma vez que todos os artigos são fornecidos a organizações (e só através destas chegam aos utilizadores finais, que são os beneficiários das mesmas); mas não há qualquer negócio envolvido, uma vez que todos os bens são disponibilizados gratuitamente.
Para manter este modelo, as entradas de donativos e o mecenato são fundamentais, mas a Entrajuda gera receitas próprias, nomeadamente através de serviços como o refurbishement de material informático. É a única organização do terceiro setor a estar acreditada para esta tarefa pela Microsoft.
Na antiga garagem coletiva que serve de armazém à Entrajuda, no bairro da Quinta do Cabrinha, em Alcântara, as empilhadoras não param de circular. O projeto demonstra uma notável capacidade de mobilizar voluntários (a oferta de capacitação de IPSS é feita com recurso a formadores voluntários), de angariar parceiros (grandes empresas nacionais) e de inovar. Bom exemplo disso é a plataforma darereceber.pt (ver caixa).
Ainda que o apoio ao terceiro setor seja o cerne da missão da Entrajuda, a criação de emprego é também um objetivo. Numa parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e a Câmara de Vila Nova de Gaia, a Entrajuda lançou um curso prático de reparação de computadores que já vai na terceira edição e em que todos os finalistas (40 por ano) têm encontrado facilmente colocação no mercado de trabalho. Isabel Jonet, presidente da direção da Entrajuda, ressalva no entanto que “o principal benefício da atividade da Entrajuda é a proteção do ambiente”, através do resgate de toneladas de materiais que de outra forma iram para incineração ou aterro.
darereceber.pt é uma plataforma que permite a qualquer pessoa disponibilizar a instituições sociais os bens de que já não precisa, e às instituições sociais localizar bens gratuitos que possam suprir as necessidades dos seus utentes. Tendo identificado a logística (armazenamento e transporte) como uma barreira à efetiva transferência dos bens disponibilizados, a Entrajuda está a desenvolver a Rede Dar e Receber. Trata-se de estabelecer parcerias com Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, a fim de facilitar o transporte dos bens (com recursos à frota das autarquias) e possibilitar o armazenamento temporário em espaços cedidos. Este processo está a ser testado em cinco municípios piloto (Porto, Gaia, Évora, Caldas da Rainha e Baixo Sabor) com o apoio do Fundo Ambiental.